Certa Carta





















Querida Mente,
Perdão mais não pretendo fazer pacto com tal absurdo. Tal envolvimento seria desonesto comigo mesmo. E não me importa quantas regras se escondem por trás disso. A verdade nua e crua, é que meu espaço está limitado a um palmo de mente, ou a alguns centímetros de cérebro (e sejamos francos, normalmente centímetros desperdiçados).
Não, eu não pretendo ser direto. Rodopiar por entre metáforas e simbolismos já é um costume. Mas vou direto a essência desta carta.
Quando me olho no espelho, vejo olhos profundos e cheios de histórias e por tanto, dotados de conhecimento e fragilidade. Quase sempre vejo um estranho penteando meus cabelos. Mãos macias, delicadeza fria. Alguém muito parecido com o ontem e talvez uma sombra perfeita de algo perdido entre o hoje e o amanhã.
Sim, é dessa falta de sanidade que quero falar. Desse momento espantalho que vivo todos os dias. O teto que vejo ao abrir os olhos parece despencar a noite inteira e reconstruir-se antes da alvorada.
Meus pés só tocam o chão quando necessitam andar. E me preocupo com isso. Como posso desmembrar meus punhos para escrever e não ter coragem de pisar em um chão de realidade? Essa fantástica índole me criou por toda vida. Regeu meus mundos como uma orquestra radiante de cigarras. E agora exige um troco que eu talvez não possa repassar.
É fato. Quando vêem invisíveis aqueles que dormem ao som das estrelas, eu vejo vida em peitos que não param de pulsar. Enquanto enxergam em rosas murchas motivos para chorar, eu sinto um perfume tímido, lapidado com o tempo. Enquanto tocam-se uns aos outros sem sentir da pele aquilo que os poros oferecem, eu sinto cada um deles desenhados na ponta dos meus dedos. E enquanto só ouvem o que é de agrado, minha boca se cala, como figura de um ‘não’.
Essa loucura me ataca feito fera. Na doce intenção de me diferenciar. Por isso sangro (no sentido vida da palavra). Tenho moldado em mim um homem que não conhece o desprezo, que segura nas mãos um acaso certo, irmão gêmeo do destino.
A insanidade me vem como outro mundo. Outro nome pra mim. Um apelido talvez.
Mas não é de todo preocupante. Tenho tudo o que necessito pra respirar. O lápis já está em mãos. O papel descansado sobre a mesa. Os olhos já estão marejados. E a mão, já alojada na cabeça.
Vida eu tenho. Resta saber quem a de cuidar.

                                                                                              (Halifas Quaresma)

Comentários

  1. "Quando me olho no espelho, vejo olhos profundos e cheios de histórias e por tanto, dotados de conhecimento e fragilidade. Quase sempre vejo um estranho penteando meus cabelos. Mãos macias, delicadeza fria. Alguém muito parecido com o ontem e talvez uma sombra perfeita de algo perdido entre o hoje e o amanhã."

    Halifas...sem palavras, nossa, arrancaste-me lágrimas..!
    Estupendo...!

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  2. Halifas querido, eu cada vez que leio algo seu, me emocionooooooooo.
    Essa capacidade que vc tem de colocar sua alma pra fora me encanta.
    Lindo texto, lindoooooooooooooo!!!!

    Meu abraço!

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  3. Obrigado Francisco, vindo de um poeta tão mágico, fico honrado. Camilla obrigado, acho que pude sentir um toque suave em sua alma( bem de leve).
    Sil, ^^, o que dizer desses elogios elém de um muito obrigado.
    Fico mesmo feliz em escrever algo que sirva de alimento pra algum espaço vazio dentro de alguém.

    Beijos.

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  4. Tão lindas suas escritas!Parabéns pela sensibilidade e profundidade que vc consegue alcançar na alma da gente.

    Seguindo tbm :)
    Abraço!

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  5. Como posso desmembrar meus punhos para escrever e não ter coragem de pisar em um chão de realidade? Essa fantástica índole me criou por toda vida. [...]

    adorei ! fantastico o modo como brinca com as palavras, e com sinceridade!
    obrigada por me seguir, estou te seguindo tb ! ;)

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  6. Que palavras bonitas.. Pronfundo !
    E da sua vida, cuide vem, ela precisa de você!

    beijo ;)

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  7. Patty, Bru e Lua. Muito obrigado. Adorei ver vocês aqui no blog e espero ter a companhia de vocês não só por aqui mas também nos blogs de vocês.

    Beijos.

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  8. Obrigada Halifas pela presença, volte sempre que desejar, a nossa vida precisa sim de cuidado, de amor e de paz!
    Um abraço
    Ju

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  9. é, quabdo você disse que eu tinha arrancado lágrimas, pude sentir essa expressão.

    ^^

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