Das coisas Minúsculas















O que alimenta esse vazio nas veias? O que será isso que toma tanto de mim sem que ao menos exista? Qual será a razão de não encontrarmos o alcance de nossos olhos quando procuramos motivos e momentos? O peito sempre arde por coisas que buscamos. A vontade de voltar à infância, de viver os mesmos medos, de amar os mesmos rostos, de sonhar as mesmas coisas, de dormir e acordar para viver tudo de novo e com mais carinho.
 

Ao nosso redor as pessoas giram sem norte, repetindo absolutamente tudo que um dia fizeram seus pais, seus amigos, seus vizinhos. Não aprendemos ainda que a resposta não mora nos ponteiros, mas naquilo que os carrega, não no tempo, mas naqueles que o faz parecer necessário.
 

Lá fora é sempre mais alegre, é sempre mais barulho, sempre muito mais do que aqui dentro. Nunca tive o direito de me achar perdido do resto das coisas, mas minha vontade de não soluçar o desgosto de repetir as horas é mais forte do que a vontade de amar o que se esconde do lado de fora das grades.
 

Sorrir é mesmo um bom remédio. Abraçar também ajuda quando feito nos ombros de outro alguém. Não é que eu deseje me privar daquilo que é real e que pode ser tocado. Mas acho que meus olhos me dão o direito de desejar não apenas o que realmente importa para a pele. Mas também o que realmente arranque de mim todas as vontades de amar e sentir. Todas as formas que o íntimo encontra de compensar os temores. Mesmo que tudo que eu deseje não seja de concreto. Mesmo que tudo que eu deseje não seja de comer ou de beber. Mesmo que tudo que eu deseje não seja de carne ou possa ser comprado. Mesmo que seja silêncio e vontades. Mesmo que não possa ser ouvido por todas as mãos. Mesmo assim eu quero. Preciso. Faço.
 

A alma mastiga muita amargura, muita espera; muito barulho. E depois despeja no corpo aquela vontade de passear pela pele, depois de transbordar da mente. E é nisso que as coisas minúsculas começam a fazer sentido. Depois que choramos, entendemos os risos. Depois do frio, entendemos o abraço. Depois do não, entendemos o pedido.
 

Então, que seja o meu mundo dotado das coisas que não vejo. Que seja meu mundo uma caixa de tudo que é mínimo e imperceptível. Pois o que quero tem sabor de alcance e não de distância. O que quero tem o rosto do hoje e sua voz eterniza todas as datas. E que venha toda ilusão que existe, morar no teto estrelado do meu quarto. Por que, se de realidade o mundo já se derrama, tenho em mim todos os motivos para me encher de todos os sonhos.

(Halifas Quaresma)

Comentários

  1. Halifas,

    dos mais belos! *-*

    Um beijo e um abraço.

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  2. Um poeta!

    Dos melhores que meu olhos já leram!


    Adoroooo-te, Halifas!

    Um beijooo!

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  3. Oooooow...Obrigado...

    Adoro todas vocÊs...

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