Desamarre-se
Foto: Paula Alface
É difícil simplesmente olhar para as coisas que se escondiam na palma da mão e que agora se despedem por qualquer motivo temporal. Conceitos, rotinas, cheiros, sentidos, surpresas. Tudo que se desliga de alguma maneira da sua vida deixa sua língua vazia, sem nada a declarar. Não é tão fácil dizer adeus e permitir que os planos se dissolvam no vento como se nunca tivessem existido. Como imaginar lugares sem a mesma companhia, ou momentos sem as mesmas alegrias? Como se desvincular de algo que, instintivamente, passou a te fazer levantar da cama todos os dias com um motivo para ser?
O nível de vida que
temos é a soma de tudo que dança ao nosso redor. Sim, a vida dança ao nosso
redor. Ela esfrega na nossa cara os seus rodopios e gargalhadas. Nós é que só enxergamos
quando convém.
As coisas vêm e vão de
uma maneira muito individual. Não se pode medir o quão intenso será um
sentimento ou o quão indiferente seremos a ele. Só se vive o suficiente para
chegar ao final da vida e perceber que aprendeu pouco e se preocupou demais. Os
nossos dias são como uma esponja nova, que é usada e reutilizada até ficar
murcha e cheia de histórias. Nós absorvemos e cuspimos de tudo um pouco, mas
algo sempre fica e firma residência em nossa alma. Essa soma das coisas que
ficam molda o caráter, a personalidade, a vitalidade, a disponibilidade, a
vaidade. Tudo muito bem misturado e pintado no rosto.
Importa tanto assim o
que se vai? Afinal o que tinha de ficar já está onde deveria estar. O que realmente
importa se aquieta em qualquer lugar que caiba. O apego às vezes é só uma carência
disfarçada de costume. É medo de mudar. De caminhar novamente pelo mesmo
caminho e, dessa vez, perceber que existe uma paisagem em volta.
Não é necessário
agarrar-se a essa segurança tola que nasceu de um cotidiano imutável. Cada
passo desenhado na areia, pelo vento ou pelo mar, se apaga grão a grão. Mas existem
quilômetros incontáveis de praia para se percorrer ainda.
Se não era tão
fundamental, apenas solte e deixe que exista em outro lugar. Desamarre-se e
empurre-se de si mesmo. E ao se virar, terá esbarrado no amanhã.
(Halifas Quaresma)
que lindo!
ResponderExcluirNossa! Que ótima surpresa foi encontrar seu comentário, e mais ainda, encontrar esse blog recheado de palavras tão bonitas! Eu li muitos outros além desse, mas resolvi fazer um único comentário.
ResponderExcluirGanhas-te uma leitora!
Parabéns, é encantador aqui!
Muito obrigada pelo comentário, fico muito feliz quando encontro comentários especiais, pessoas que não me conhecem, mas de alguma forma, se conectam com as minhas palavras! Espero te encontrar mais vezes por lá.
Um prazer conhecer suas palavras. :)
Abraço.
Saudades daqui tb!!
ResponderExcluirSabe o quanto gosto das tuas palavras, da tua poesia!
Deixei msg pra vc no face, bjs
Halifas que felicidade em te encontrar passeando pelo meu blog.
ResponderExcluirTambém vim matar saudades das suas palavras angelicais.
Obrigada por todo carinho.
Que texto bonito, realmente os momentos harmoniosos e em sintonia com algumas pessoas passam, e fica difícil entender o porquê, mas é preciso saber desprender e tocar no amanhã, como você lindamente escreveu.
Beijos!
O título já diz tudo, lindo texto!
ResponderExcluirEste comentário foi removido por um administrador do blog.
ResponderExcluirVocê tem uma capacidade imensa de
ResponderExcluirtocar profundamente, tocar a minha alma...
Sua maneira de expressar me encanta e emociona
o meu coração...
Sim muitas vezes ou na maioria das vezes é necessario
deixar ir o que não mais nos pertence, que não nos faz bem ou
apenas deixou de ser...e nem sempre será facil, mas é preciso que " solte e
deixe que exista em outro lugar."
Como disse uma de suas seguidoras...você escreve lindamente!!
P.S.: Mas não se desprenda de mim, não me solte "anjo", me deixe sempre
estar aqui com você...
Abraço de alma ツ