Alforria-me
Por que me prendes em teus dedos? Já arrancou de mim toda saliva de minhas idéias E já sugou do meu corpo toda vontade e ausência. O que ainda resta oferecer? Meus olhos vendados e mal gastos? Minha pele mal tocada e mal vestida? Ou minha língua, que já não prova do gosto da verdade? Diz o que desejas, ainda, escravizar. Fala da tua vontade de acorrentar-me em veias A essas tuas letras, palavras e tintas frias. Já tomaram de mim todas as horas que cabiam no meu pulso. Não te restam muitos anseios. Negociaria anos de juventude Por miseráveis minutos de alforria. Só pra ter o gostinho de uma vida sem poesia. De uma alma sem alimento. Sei que não sobreviveria. Mas valeria a pena, Dedicar-te menos segundos de minha vida. Oferecer-te menos gotas de meus momentos. ...